domingo, 19 de setembro de 2010

No final





E quando ela acabar? Quando a pele não for tão lisa e o corpo não for tão uniforme? Quando a luz que entra pela janela da manhã te fatigar e lhe ausentar a vontade de sair da cama?

E quando o sorriso não é mais tão seu e verdadeiro? Quando já não se sabe a verdadeira cor do cabelo a tempos? Quanto já se foram muitos e vieram tantos outros que também foram? E quando o corpo não obedecer mais prontamente os comandos? Quando parecer impossível aquilo que se fazia sem notar? E quanto não houver mais prazer nem beleza? Quando a carne não mais interessa? Quando o quente já se esfriou e a noite só é tida como conforto por ser o fim daquele dia?

Amigo, você está velho.

E só interessará o que tem guardado dentro de sua mente.

Beleza realmente se dissipa, perde, sabedoria se expande e é sim concreta.

Antagônico


Não sei se é apenas comigo, mas sempre após uma série de dias bons, ou mesmo após uma noite daquelas, amanheço com uma sensação de satisfação aliada a aflição, apreensão, ansiedade e nostalgia. Imaginando se terei e quando serão os próximos bons momentos. E com essa obsessão meu dia acaba seguindo bastante melancólico.

Desde minha infância reparo isso, após uma excursão divertida com a escola, após uma ida ao parque, e qualquer coisa divertida para uma criança, me batia algo similar a uma ressaca. Isso acontece com todos?

A sensação é recalcitrante mas sei que amanhã tudo passa , que enquanto estiver vivo terei essa sequência renitente, ápice e declínio. Mas quase sempre vale a pena.Não se pode deixar que as “baixas” se sobressaíam e que lhe puxem para aquele famoso “abismo profundo” que deve ser insistentemente citado em diagnósticos de psicologia. Essa é a vida, cheia de pequenos detalhes, detalhes interessantes para serem reparados.

Enquanto estou na fase “down” escuto um Blues (nesse caso B.B. King) e aprecio o fim de mais um dia.

“E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, é doce herança Itabirana” já dizia Drummond.